Em um mundo onde a mente humana se tornou o bem mais disputado, a manipulação é onipresente. O que antes era refúgio do pensamento livre, agora tornou-se um campo de batalha, inóspito e grudento, no qual a liberdade e autonomia estão sob constante ataque. Ideologias superficiais, endossadas por grandes corporações e indivíduos movidos por poder e vingança, travam guerras sem balas: apenas com palavras, imagens e narrativas meticulosamente construídas. No entanto, o crime cometido por Luigi Mangione surge como um lembrete brutal de que essa guerra silenciosa saiu do campo das ideias, atravessou a fronteira do discurso e explodiu em violência. Voltamos ao tempo da bala.
Em 4 de dezembro de 2024, Nova York, uma cidade historicamente entrelaçada com relatos de crime organizado e marcada por episódios de violência, foi estremecida por este ato de brutalidade sem precedentes. Em plena luz do dia, no coração de Manhattan, Brian Thompson, CEO da seguradora de saúde UnitedHealthcare, foi assassinado a sangue-frio por Luigi Mangione. Embora a cidade já tenha testemunhado cenas de crimes violentos ligados a organizações criminosas, gangues e à máfia, esse episódio se destacou não apenas pela violência em si, mas pelas ideologias que o permearam. As motivações por trás desse assassinato, intensamente debatidas nas redes sociais, ganharam destaque e popularidade, deixando muitos a lidar com suas profundas ramificações. Para entendermos essas ramificações e suas consequências, adentremo-nos na história de cada um dos envolvidos.
Brian Thompson ingressou no UnitedHealth Group em 2004, e, eventualmente ascendendo à posição de CEO, foi incumbido de promover a expansão financeira da empresa. Durante sua gestão, a seguradora registrou um aumento expressivo nos lucros, saltando de 12 bilhões de dólares em 2021 para 16 bilhões em 2023. Entretanto, parte desse crescimento foi atribuído a um aumento significativo nas negativas de reembolsos de saúde. Em 2023, a UnitedHealthcare rejeitou cerca de uma em cada três solicitações, o dobro da média do setor, que é de aproximadamente 16%, segundo uma investigação do Boston Globe. Considerando a valorização econômica da UnitedHealth, críticos apontam que a política agressiva de rejeição de reembolsos teve graves consequências sociais, contribuindo indiretamente para inúmeras mortes. Muitos pacientes, incapazes de custear tratamentos essenciais, ficaram desamparados, mesmo pagando prêmios elevados por seus seguros.
Em maio de 2024, Thompson foi alvo de uma ação coletiva movida pelo Hollywood Firefighters Pension Fund, que o acusava, junto com outros executivos da UnitedHealth Group, de insider trading (uso de informação privilegiada). A ação alegava que ele vendeu mais de US$15 milhões em ações da empresa pouco antes de uma investigação antitruste do Departamento de Justiça dos EUA se tornar pública, o que levou a uma queda significativa no valor das ações. Esse contexto trouxe à tona toda podridão do sistema de saúde norte-americano, destacando como o foco no lucro corporativo pode se sobrepor ao bem-estar dos pacientes. E esse foi um gatilho determinante para o ato imprudente e fatal de Luigi Mangione.
A princípio, Luigi Mangione era a personificação do sucesso, aparentemente imune aos desafios que frequentemente moldam a trajetória de muitas pessoas. Suas conquistas acadêmicas e intelectuais destacavam-no como um jovem destinado à grandeza: graduou-se como um dos melhores alunos da Gilman School, ingressou em uma universidade Ivy League (Universidade da Pensilvânia) formando-se com honras em engenharia e obteve um mestrado em engenharia da computação. Luigi parecia encarnar o ideal do jovem moderno, munido de potencial ilimitado e uma educação de elite. Entretanto, por trás dessa fachada impecável, escondiam-se mágoas profundas e ressentimentos silenciosos contra o establishment, ou deep state. Sentimentos tão intensos que não apenas interromperam sua promissora vida acadêmica, mas também o aparelharam intelectualmente, conduzindo-o a um destino tão inesperado quanto devastador.
Amigos e familiares relatam que Luigi Mangione estava residindo em Honolulu, Havaí, quando cortou contato com todos no início de 2024. Após uma cirurgia nas costas para aliviar a dor crônica causada por um nervo comprimido, Mangione teria se isolado completamente. A lesão não apenas o afastou do surfe, uma de suas maiores paixões, mas também abalou profundamente seus relacionamentos românticos, deixando-o a enfrentar uma agonia física e emocional insuportável. Relatórios indicam que ele recorreu a tratamentos alternativos, incluindo terapia com psicodélicos, na tentativa de encontrar alívio para seu sofrimento. No início do ano, Aaron Cranston, um ex-colega de classe, revelou ao The New York Times que havia recebido uma mensagem da família de Mangione informando que estavam sem notícias dele há meses.
Luigi Mangione foi detido em uma unidade do McDonald’s em Manhattan pouco após cometer o crime. A prisão ocorreu em plena luz do dia, sem que Mangione demonstrasse qualquer intenção de fugir do local. Durante a abordagem, as autoridades apreenderam um manifesto manuscrito que revelava suas profundas mágoas contra a indústria da saúde e o corporativismo americano. No documento, Mangione expunha acusações relacionadas à luta de sua mãe, diagnosticada com neuropatia severa aos 41 anos, cuja busca por assistência foi repetidamente frustrada. Ele alegava que dois médicos haviam inicialmente diagnosticado erroneamente sua condição, atribuindo o problema a fatores psicossomáticos ou a um nervo comprimido, enquanto um terceiro médico realizou exames caros que levaram sua mãe a atingir a franquia de US$ 6.000 de seu plano de saúde da UnitedHealthcare. O manifesto ainda denunciava práticas da empresa, que constantemente mudavam seus procedimentos, criando barreiras significativas para pacientes que buscavam reembolso ou aprovação para serviços médicos.
A indignação de Mangione culminou em tragédia quando Brian Thompson foi morto a tiros em um ataque descrito pelas autoridades como premeditado. Na cena do crime, investigadores encontraram cápsulas de bala gravadas com as palavras “deny”, “defend,” and “depose” (negar, defender e destruir) referências claras às táticas frequentemente atribuídas à indústria de seguros de saúde para evitar pagamentos de reivindicações.
A trama tornou-se ainda mais enigmática quando “investigadores online” descobriram mensagens ocultas no perfil de Mangione nas redes sociais, desencadeando uma onda de teorias da conspiração que rapidamente dominaram as plataformas digitais. Uma das descobertas mais comentadas envolveu uma foto postada por Mangione no X (antigo Twitter), que mostrava uma carta Pokémon do Breloom, o 286º Pokémon. O número “286” tornou-se um foco imediato de especulação, já que parecia surgir repetidamente em associação com o suspeito: era também o número exato de postagens no perfil de Mangione antes de sua prisão. Desta forma, internautas começaram a desvendar possíveis significados para a cifra. Um usuário destacou a ligação com Provérbios 28:6 da Bíblia: “Melhor é o pobre que anda na sua integridade do que o rico que se desvia nos seus caminhos”. Outros conectaram o número ao código de negação 286, utilizado por seguradoras de saúde para rejeitar reivindicações por não cumprirem os prazos de apelação. Alguns sugerem que Mangione poderia estar construindo um rastro simbólico, transformando o número em uma assinatura velada de sua revolta.
O apoio a Luigi Mangione cresceu de forma relevante, especialmente nas redes sociais. Ao amplificar a narrativa em torno de seu caso, apoiadores estão transformando-o em mais do que apenas um criminoso. Ele passou a ocupar um papel improvável para alguém que atirou em um homem nas ruas de Nova York, sendo retratado como um prisioneiro político, um mártir por uma causa maior. Uma pesquisa conduzida pelo Emerson College buscou capturar a percepção pública sobre o incidente, fazendo a pergunta: “Você acha que as ações do assassino da UHC são aceitáveis ou inaceitáveis?” Os resultados foram surpreendentes: 41% das pessoas, com idades entre 18 e 29 anos, acreditam que o assassinato foi de alguma forma aceitável ou completamente aceitável.
Segundo matéria publicada no The Guardian, um grupo autodenominado Comitê Legal de 4 de Dezembro arrecadou recursos por meio da plataforma GiveSendGo, que a equipe de defesa de Luigi Mangione declarou estar disposta a aceitar. Mais de 10.000 pessoas contribuíram com uma média de US$30 cada, totalizando cerca de US$300.000 captados para o fundo de defesa de Luigi Mangione. A página do grupo deixa claro que não está ali para “celebrar a violência”, mas sim para defender o “direito constitucional à representação legal justa”. Essa campanha de arrecadação reflete um fenômeno crescente, em que casos de grande notoriedade atraem apoio financeiro de indivíduos ou grupos que, embora não necessariamente aprovem as ações do acusado, defendem o princípio fundamental de uma representação legal justa. Assim, a crescente aceitação em torno desse crime brutal não deve ser vista de forma isolada, mas como um sinal alarmante de uma mudança de paradigma inexorável, que redefine os limites morais e legais sob o olhar complacente da sociedade.
Não há justificativa para o ato de Luigi Mangione, seu crime permanece imperdoável, mas ignorar as forças mais amplas em jogo seria deixar de enxergar a verdadeira guerra que se desenrola abaixo da superfície: a batalha pela nossa consciência. Seja por meio de algoritmos das redes sociais, ciclos de notícias projetados para inflamar em vez de informar ou pela erosão gradual do pensamento crítico, as pessoas se tornaram alvos fáceis da lavagem cerebral. Mangione, como tantos antes dele, pode ter sido um mero fantoche movido pelas mãos invisíveis de manipuladores que operam nos bastidores.
O ato de Mangione sugere uma crença de que a eliminação de uma figura central forçaria a sociedade a encarar suas falhas sistêmicas mais profundas. Esse incidente destaca uma tendência inquietante e crescente: a glorificação do justiceiro anti-establishment. Enquanto a violência nos Estados Unidos é frequentemente associada a tiroteios em massa e erupções niilistas acompanhadas de autodestruição, o crime atribuído a Mangione reflete um raciocínio diferente. Trata-se de uma lógica fria e calculista, ainda que distorcida, enraizada na convicção de que a neutralização de uma figura-chave seria capaz de mudar o mundo.
O envolvimento intelectual de Mangione com ideias anti-establishment antecede o crime. De acordo com a matéria publicada na Infomoney, em sua página no Instagram, Mangione se apresenta como um “buscador da verdade” e um “quebrador do sistema”. As palavras carregam um tom de desafio, uma recusa em aceitar a ordem estabelecida. Ele afirmou que tomaria as rédeas da situação enquanto “o mundo faz vista grossa”, sugerindo que sua ação nasce do vácuo deixado pela inércia da sociedade. Em um tom quase profético, conclui: “Assista ao desenrolar das consequências”.
As declarações desse novo “quebrador do sistema” refletem uma desilusão semelhante à do notório terrorista americano Ted Kaczynski, o Unabomber, revelando uma profunda frustração diante de um mundo anestesiado, onde cabe ao indivíduo fazer justiça com as próprias mãos. Essas semelhanças não são meras coincidências. Em janeiro de 2024, Mangione publicou no Goodreads uma análise detalhada de Industrial Society and Its Future, o controverso manifesto de Kaczynski. Em sua crítica, ele argumentou que, embora fosse fácil destacar o Unabomber como um lunático, sua obra levantava questões cruciais sobre o impacto da tecnologia na sociedade moderna — questões que, segundo ele, continuam mais relevantes do que nunca.
Theodore Kaczynski (1942-2023), conhecido mundialmente como Unabomber, era um assassino metódico e imprevisível, com um leque extenso de alvos, sempre guiado por sua convicção de que o sistema tecnológico-industrial ameaçava a liberdade humana. O apelido “Unabomber” deriva de sua escolha de alvos iniciais: universidades e companhias aéreas. Ao longo de 18 anos, ele perpetrou uma série de 16 atentados com bombas, resultando em 3 mortes e 23 feridos, e desencadeou a investigação mais cara da história do FBI, estimada em 50 milhões de dólares.
Assim como no caso de Mangione, a trajetória de Kaczynski ilustra como ideologias extremistas podem se enraizar a partir de experiências pessoais e contextos específicos. Quando ainda criança, Theodore foi hospitalizado e isolado por semanas devido a uma erupção cutânea, sendo separado até de seus pais. Esse isolamento precoce teria deixado marcas psicológicas profundas, coincidindo com um comportamento cada vez mais retraído e uma visão de mundo marcada pela desconfiança e alienação. Com apenas 16 anos, ingressou na Universidade de Harvard, onde se destacou academicamente, mas permaneceu socialmente reservado. Durante esse período, participou de um controverso experimento psicológico, conduzido pelo psicólogo Henry Murray, que submetia estudantes a ataques verbais extremos para testar suas reações emocionais. Kaczynski foi submetido a mais de 200 horas desses ataques psicológicos entre 1959 e 1962, e muitos especulam que essas experiências intensificaram seus sentimentos de paranoia e isolamento, contribuindo para a futura criação do Unabomber.
Esse experimento levantou especulações sobre o envolvimento de Murray com outros projetos, que testavam, muitas vezes sem consentimento, métodos para influenciar o comportamento humano. Durante a Segunda Guerra Mundial, o psicólogo serviu no Escritório de Serviços Estratégicos (OSS), o precursor da CIA, onde desempenhou um papel crucial na avaliação de agentes e contribuiu para a criação de um perfil psicológico de Adolf Hitler. Ele notoriamente previu que Hitler provavelmente cometeria suicídio em caso de derrota. Após a guerra, especula-se que Murray manteve laços com a CIA, especialmente durante a Guerra Fria, uma era marcada por intensas iniciativas de manipulação cognitiva e técnicas de interrogatório, como parte das operações de PSYOP (operações psicológicas). Alguns teóricos sugerem que os infames experimentos de Harvard conduzidos por Murray, que submetiam estudantes a estresse emocional extremo, poderiam estar conectados ao programa secreto da CIA, o MKUltra.
As ações atribuídas a Luigi Mangione parecem ecoar a filosofia anti-establishment de Ted Kaczynski, mas há diferenças marcantes na execução e no propósito. Enquanto Kaczynski evitou cuidadosamente a captura para sustentar sua campanha a longo prazo, Mangione parece ter abraçado a visibilidade, talvez até desejando ser capturado para amplificar sua mensagem. Esse contraste ressalta diferenças fundamentais em suas motivações psicológicas e estratégias ideológicas: Kaczynski sacrificou qualquer desejo de reconhecimento pessoal em nome de suas ideias, enquanto Mangione parece ter buscado um impacto imediato por meio de uma exposição pública dramática.
Sendo assim, tanto Kaczynski como Mangione não são apenas indivíduos que cometeram atos extremos; são um símbolo de questões mais profundas, cujas narrativas provocam reflexões perturbadoras sobre o custo do progresso e as fissuras de uma sociedade obcecada por controle. E, à medida que histórias como as de Mangione e Kaczynski se desenrolam, as fronteiras entre herói e vilão, livre-arbítrio e manipulação, protesto e terrorismo são colocadas em cheque. Essa complexidade torna o assassinato de Brian Thompson em uma interseção desconcertante entre filosofia, psicologia e crítica social.
Porém, mesmo não havendo uma intenção de visibilidade por trás, o legado do Unabomber foi extremamente expressivo na mídia, o que também pode ter colaborado para propagar suas ideologias. Sua história foi um atrativo para cineastas e documentaristas, que produziram inúmeros filmes e histórias baseados na narrativa perturbadora de indivíduos submetidos a experimentos não convencionais que os deixam fundamentalmente alterados, tanto mentalmente quanto fisicamente.
Há décadas, o tema da lavagem cerebral e dos programas secretos da CIA tem sido explorado em livros e filmes. Um dos exemplos mais emblemáticos dessa abordagem é The Manchurian Candidate (1962), um thriller político que mergulha em temas de controle mental, conspiração e luta pelo poder. O filme acompanha Raymond Shaw, um veterano da Guerra da Coreia que retorna aos Estados Unidos como herói condecorado, mas que, sem saber, foi submetido a lavagem cerebral por forças comunistas, tornando-se um assassino inconsciente em um plano para derrubar o governo americano. Em 2004, o filme foi recriado em uma nova versão estrelada por Denzel Washington e Liev Schreiber, mantendo o tom perturbador, mas com um enfoque atualizado. Enquanto a versão de 1962 reflete os temores da Guerra Fria e o medo de infiltrações comunistas, o remake transita para os dilemas do século XXI, abordando a influência das corporações, a corrupção política e o controle privatizado. Ambas as versões permanecem como estudos contundentes sobre as fragilidades da mente humana, subjugada pelas estruturas de poder.
Outro exemplo icônico dessa temática é a série Bourne, que acompanha a jornada de Jason Bourne, um agente criado pelo fictício programa Treadstone da CIA, descrito como um “produto de 30 milhões de dólares”. Após ser submetido a um rigoroso condicionamento físico e psicológico, Bourne perde completamente sua identidade original e se torna um assassino de elite, um executor invisível com autoridade para sujar as mãos de sangue. Contudo, durante uma de suas operações, algo inesperado acontece: sua mente resgata fragmentos de sua verdadeira identidade, levando-o a falhar na missão. A partir desse momento, Bourne inicia uma busca incessante para desvendar seu passado e entender como se tornou uma máquina de matar a serviço do governo. O homem programado para assassinar torna-se, então, um justiceiro determinado a expor a verdade e escapar do controle de seus criadores.
Embora Jason Bourne seja um personagem fictício, sua história apresenta paralelos intrigantes com Luigi Mangione, levantando questionamentos sobre como sistemas de poder podem manipular, reconfigurar e até corromper um indivíduo. Em um “paralelo quântico”, o intelecto e as habilidades físicas de Mangione podem tê-lo colocado no epicentro de uma trama muito mais complexa do que o simples ato de vingança de um lobo solitário. Especula-se que a franquia Bourne tenha sido inspirada em eventos reais, refletindo a existência de programas secretos da CIA voltados para o treinamento de assassinos de elite. Segundo essas teorias, sempre que tais operações são expostas ou denunciadas, a agência encerra oficialmente o programa, apenas para reestruturá-lo sob um novo nome e formato. Porém, os objetivos permanecem os mesmos: a criação de agentes altamente treinados e letais, os famosos “lobos solitários”.
Essa comparação torna-se ainda mais intrigante ao considerar o desaparecimento de Mangione por pelo menos três meses — um período suficiente para alguém ser submetido a condicionamento psicológico ou até a lavagem cerebral. Não é segredo que universidades Ivy League, como Yale, Harvard e Princeton, abrigam fraternidades e sociedades secretas, associadas a experimentos de controle mental, supostamente financiados pela CIA. Levando essa ideia adiante, não seria uma surpresa se a Universidade da Pensilvânia também fosse apontada como uma possível participante dessas atividades clandestinas.
A dor pessoal de Mangione e sua aparente desconexão com o mundo poderiam tê-lo tornado suscetível ao irresistível canto da sereia, ou sua transformação em um herói anti-establishment seria, na verdade, o produto de um experimento maior, conduzido nas sombras? Essa questão persiste como um ponto de reflexão desconcertante, convidando a uma análise mais profunda sobre forças invisíveis que dominam o mundo e os limites entre o livre-arbítrio e a manipulação.
A inquietante sobreposição entre fato e ficção nos força a encarar a linha tênue que separa teorias da conspiração da exploração REAL das mentes humanas. Como abordei em meu artigo anterior sobre Joe Biden, indivíduos feridos frequentemente revelam os aspectos mais sombrios da natureza humana, não hesitam em assinar um pacto com o diabo.
Essas histórias continuam a cativar o público, eternizando legados que oscilam entre heróis e vilões, enquanto moldam, sutilmente, as percepções daqueles vulneráveis à influência. Luigi Mangione, outrora um jovem brilhante com uma educação de elite, agora se encontra no centro dessa dicotomia. Ele despreza o capitalismo, denuncia o aquecimento global como o maior fracasso da humanidade e reverencia a ideologia anti-sistema do Unabomber. Portanto, a pergunta que não quer calar, é: como uma mente moldada pela excelência acadêmica Ivy League se transforma na de um assassino sociopata, acusado de terrorismo? A dúvida já não é mais se Mangione é um herói ou vilão, mas sim se suas ações foram realmente fruto de sua própria vontade ou cuidadosamente orquestradas como parte de uma agenda oculta muito maior.
Enquanto parte da população americana permanece cativada por seu mais novo anti-herói, Luigi Mangione, o justiceiro Ivy League, sua ascensão reflete as inquietantes correntes subjacentes de uma contracultura psicopática. De acordo com um artigo publicado na Newsweek, uma imagem de Luigi Mangione retratado como Jesus, exibida em sua cidade natal, tornou-se viral nas redes sociais. O meme explodiu na internet, gerando tanto interesse que algumas pessoas solicitaram cópias para si. Uma mudança de paradigma que glorifica aqueles que desafiam o establishment, mesmo ao custo de ultrapassar os limites da moralidade.
Esse estigma assombra um país já acostumado à violência, expondo as fraturas de uma sociedade que recompensa a rebeldia, mesmo quando ela se manifesta de forma desumana. Endossar o derramamento de sangue, tanto por comunidades radicais quanto pelas mais tradicionais, destaca uma tendência preocupante: o avanço de grupos extremistas. Suas narrativas infiltraram-se na cultura ocidental, sugerindo um risco crescente de conflitos e instabilidade social nos próximos anos.
No fim, Luigi Mangione não é apenas um produto de seu trauma e intelecto, mas um reflexo de uma era intoxicada pelo caos, incapaz de discernir entre idealismo e destruição, justiça e vingança. Tanto Jason Bourne quanto Luigi Mangione tiveram suas identidades alteradas e distorcidas pelo sistema. No caso de Mangione, a história ainda é recente; talvez, com o tempo, a verdade venha à tona. Será que Mangione, assim como Bourne, é apenas um mercenário inconsciente, um “jedi” desvirtuado, a Identidade Mangione da nossa era? A principal reflexão jaz em nossa capacidade de enfrentar as verdades inconvenientes de uma sociedade doente, na qual os limites da moralidade não estão apenas turvos, mas se dissolvendo.
A arte de pensar
Para não terminar em tragédia, caro leitor, reitero que a solução se encontra no pensamento crítico. Imagine, por exemplo, um noticiário apresentando um caso polêmico. Um pensador crítico não apenas aceitaria a versão dos fatos apresentada, mas buscaria diferentes fontes, analisaria a intenção do veículo de comunicação, consideraria o contexto histórico e político e formaria sua própria opinião baseada em lógica e evidências. Devemos adotar essa mesma postura em relação à nossa própria consciência, a fim de discernir os fatos do sensacionalismo. Notícias sensacionalistas despertam emoções intensas, como medo e ansiedade, estimulando a amígdala, região do cérebro responsável por processar ameaças e acionar respostas de sobrevivência. Manchetes alarmantes sobre crimes, desastres e conflitos políticos levam a amígdala a interpretar esses eventos como perigos iminentes, distorcendo a percepção da realidade e dificultando a distinção entre fatos e exageros.
Somos humanos diferentes do que éramos há 30 anos, quando a tecnologia ainda engatinhava e nossas mentes estavam menos saturadas de estímulos e desinformação. Hoje, somos produtos de uma era de informação desenfreada, inteligência artificial e uma espécie de guerra fria digital, em que a manipulação ocorre em tempo real e as narrativas mudam ao sabor dos algoritmos. O desafio não é apenas acompanhar essas transformações, mas compreendê-las e usá-las a nosso favor.
A tecnologia não desaparecerá. O que se esvai, inevitavelmente, é a vida, a saúde, a capacidade de discernimento de quem se entrega passivamente ao turbilhão caótico de informações, tornando-se meros soldados sem identidade. Por isso, pensar criticamente não é um luxo, mas uma necessidade urgente. Precisamos aprender a filtrar, interpretar e reagir de forma inteligente, sob o risco de nos tornarmos marionetes de um sistema que se alimenta do ego e da alienação.
O futuro pertence àqueles que dominam a arte de pensar. E pensar, mais do que nunca, é resistir ao sedutor canto da sereia.