A tragédia humana consiste em achar que podemos continuar agindo mecanicamente, enquanto deixamos nosso imaginário padecer na espiral do esquecimento. Não temos mais tempo para contemplar a fé e a consciência, por isso acabamos delegando a responsabilidade de encontrar essas respostas aos deuses, sejam eles Jesus, Maomé, Buda ou Krishna. Aqueles que escaparam das garras da cultura woke e do culto à ciência, ainda acreditam em entidades divinas, mas será que apenas acreditar é o suficiente? De acordo com Jordan Peterson, não basta crer em divindades, o exercício da fé é bem mais complexo do que imaginamos. Peterson acredita que nosso processo na Terra implica em uma luta interminável com Deus.
Jordan Peterson: lutando com Deus
Em junho deste ano, a cidade de São Paulo teve a oportunidade de receber o renomado psicólogo clínico canadense, professor e autor Jordan Peterson. A visita fez parte de sua turnê intitulada “Lutando com Deus”, que aborda temas profundos como o sentido da vida, a crença e a espiritualidade, além de explorar a relação complexa entre a humanidade, a fé e a moral.
Conhecido por suas ideias conservadoras e provocativas, Peterson convida seu público a refletir sobre as escolhas que moldam nossos destinos. Para ilustrar essas questões, o psicólogo utiliza a metáfora “Lutando com Deus”, uma representação do enfrentamento com as questões existenciais e morais da vida, com dilemas de significado e propósito. Para Peterson, essa luta não se limita a um confronto com forças externas, mas envolve também nossas responsabilidades e escolhas diárias que moldam nosso caráter. Ele sugere que, ao fazer escolhas responsáveis e éticas, estamos simbolicamente lutando ao lado do divino. Por outro lado, ceder ao vitimismo, ao hedonismo ou à negligência é visto como uma espécie de submissão ao niilismo. Peterson exemplifica essa luta de forma prática, trazendo-a para o cotidiano: quando escolhemos assistir TV em vez de estudar ou quando escolhemos gastar dinheiro em prazeres mundanos em vez de investir no futuro de nossos filhos, estamos, de certa forma, nos desviando do caminho ético e responsável. Segundo Peterson, se sua escolha implica em tornar-se vítima de uma situação, isso quer dizer que você se tornou niilista ou só está buscando prazer. Para ele, Lutar com Deus é escolher algo diferente do hedonismo, que seria Satanás.
“O maior truque que o diabo já fez, foi convencer a todos de que ele não existia.”
Charles Baudelaire
Jordan Peterson baseia seu fundamento em histórias bíblicas, sendo uma delas a história de Jacó lutando com Deus no Livro do Gênesis. Ele interpreta a passagem como uma analogia profunda para a experiência humana de lutar com o divino, com a própria consciência e com os obstáculos da vida. Essa luta não é apenas sobre a crença em Deus, mas sobre a batalha interna que as pessoas enfrentam quando tentam alinhar-se com seus valores e ideais mais elevados. Peterson também explora a história de Caim e Abel como uma analogia do sacrifício humano, do ressentimento e das consequências do fracasso. Ele explica que o ressentimento de Caim, alimentado pela recusa de enfrentar suas falhas e culpar os outros, o leva à corrupção moral e à destruição, servindo como um alerta para os perigos de nutrir esses sentimentos e os resultados catastróficos que podem surgir. Peterson vai além, ele alega que boa parte da cultura ocidental colocou a crucificação de Cristo no centro de tudo como uma tragédia arquetípica, causando pavor. Mas, o que muitos não se dão conta é que o verdadeiro desfecho da história não é a crucificação, mas sim a ressurreição de Jesus Cristo. Estar aterrorizado faz parte da jornada, mas não define seu fim; a ressurreição é o verdadeiro final feliz.
A batalha pelo imaginário
As pessoas gostam de filmes e histórias de terror porque querem aprender o que é aterrorizante, estão inconscientemente se preparando para os horrores e as catástrofes da vida. Ao se exporem ao que é assustador, os indivíduos encontram a coragem dentro de si para lidar com o que é de fato pavoroso. Uma pessoa que foi privada dos horrores da vida pode não estar preparada para desilusões amorosas, falta de dinheiro, luto e outras adversidades naturais ao ser humano. Se não tratadas, essas pessoas podem futuramente desenvolver crises de ansiedade, autoflagelação e até mesmo pensamentos suicidas. Por isso, os contos de fadas mais clássicos envolvem tragédias, dado que o entretenimento infantil contribui no processo de expansão de consciência. As crianças brincam tão freneticamente porque no seu imaginário estão construindo uma história, praticando a modelagem do mundo ao seu redor. E as tragédias e os sonhos fazem parte desta história.
No entanto, os sonhos e as tragédias arquetípicas estão sendo desmantelados por uma geração vazia, que procura cegamente o hedonismo e o engajamento virtual; que acredita que contos de fadas são vis e perigosos; que acredita ser de péssimo gosto ver a Branca de Neve em um caixão de vidro e seus sete anões em prantos velando seu corpo. Sim, pode ser um choque para uma criança de 5 anos ver aquela cena dramática. Porém, existem dois pontos importantes que devem ser lembrados nessa história: primeiro, aquelas cenas fúnebres existem; segundo, a Branca de Neve não está morta, apenas em um sono profundo do qual ela ressurge no final. Seria a mensagem mais importante a de que estamos em um sono profundo, com a chance de despertar? Muitas das fábulas antigas de Walt Disney retratavam esse tema, diferentes das pautas de hoje que foram imbuídas pelos preceitos do wokeismo.
Os aspectos mais profundos da verdade são metafísicos. Elementos transcendentais tais como amor, bondade, verdade e beleza estão condensados nos contos de fadas. Eles não só nos dizem que dragões podem sim existir, mas também que podemos derrotá-los. Porém, nos dias de hoje, as telas se tornaram as grandes fábricas de fatos e ideias, e o entretenimento digital tomou conta do imaginário. Nosso mundo acelerado e tecnológico perdeu o interesse nos contos de fadas. Pautas nocivas, tais como as impostas pela cultura woke, estão desconstruindo valores antigos e dando lugar às novas teorias progressistas. Resgatar tradições e valores que estão sendo perdidos é de suma importância para escapar dos tentáculos sedutores do progressismo desenfreado.
Luz no fim do túnel
Não há necessidade de entrar em desespero, caro leitor, há uma luz no fim do túnel. A física quântica nos revela que existem soluções além do apocalipse, e a batalha pelo imaginário pode ser vencida. Em pequenos cantos do espaço e do tempo, cientistas descobriram uma energia insondável e mistérios de tirar o fôlego, revelações que sugerem que todos estamos conectados. O universo físico, na verdade, não é apenas composto de matéria, mas é uma única onda em movimento. Essa onda quântica pode ser entendida como uma energia fractal, a qual podemos “surfar” dependendo de como observamos o mundo.
Em última análise, filtrar o que estamos observando e absorvendo é a solução de nossos problemas. Se passarmos boa parte do dia “scrolling” nas redes sociais, estaremos assimilando o conteúdo imposto pelo sistema, ou Estado, ou Leviatã, ou Matrix — a física quântica permite que você escolha seu avatar. Vejam que a fórmula se mantém a mesma, o que mudam são os arquétipos. Em várias filosofias, a batalha espiritual é vista como uma metáfora para o conflito interno que cada um enfrenta ao tentar se alinhar com o bem, com a verdade e com o crescimento pessoal. Nessa jornada, a busca pela espiritualidade e a crença em um Criador são essenciais para escapar das garras de Leviatã.
Essa luta contínua pela integridade espiritual, pela superação do mal e pela busca de um propósito maior é parte essencial da condição humana. A crença em um “cientificismo” (a religião da ciência) nos reduz a autômatos materialistas, absorvidos pelo consumo de produtos, imagens, notícias, memes e entretenimento digital. Já o culto ao wokeismo nos divide mais ainda, garantindo que fiquemos todos separados em nossas pequenas bolhas. O ocidente estava a caminho de se tornar um imenso “caldeirão etnico”, onde as diferenças se misturam e todos se aceitam, mas agora estamos todos segregados em nossos pequenos silos, odiando quem não pertence ao nosso grupo. Isso é autodestruição, não poderia dar certo. Mas isso já está mudando, o “vírus Woke” está fadado a cair no esquecimento.
Existem aspectos da alma humana que transcendem a ciência e a tecnologia e que tendem a durar. Por isso, precisamos mudar a vibe de nosso zeitgeist, nosso espírito de época. O elo entre ciência e religião precisa ser restabelecido e a física quântica é a liga que estava faltando. “Surfar a onda quântica” representa uma virtude que pode ser alcançada através de um olhar crítico e profundo sobre nós mesmos. Esse olhar, então, deve evoluir para uma busca transcendental de estarmos todos conectados e não isolados em nossas bolhas egoicas. Para vencer a batalha pelo imaginário, precisamos primeiro superar o vício no hedonismo e na busca incessante por dopamina digital. O resgate da fé espiritual é um trabalho de formiguinha. Como disse Jordan Peterson, devemos arrumar nosso quarto antes de tentar arrumar o mundo.
Quando as pessoas descobrirem que elas, na verdade, são os verdadeiros agentes da fé, aí sim teremos uma raça de super-humanos. Somente então poderemos nos tornar exemplos a serem seguidos, construindo, assim, um verdadeiro exército do bem.