O interesse de John Money pela identidade de gênero e sexualidade começou em meados do século 20. Em 1966 ele fundou a primeira clínica de transição de gênero, no Instituto John Hopkins University em Baltimore, EUA, onde conduziu pesquisas e trabalhos clínicos em indivíduos intersexuais (aqueles que nascem com características sexuais físicas atípicas). Ele defendia que as pessoas poderiam mudar de gênero a partir de tratamentos hormonais e reeducação social e cultural. Money cunhou o termo “identidade de gênero” no campo da psicologia e medicina, argumentando que o sentimento de um indivíduo em ser homem, mulher ou qualquer outra coisa, era um produto social, e que poderia ser moldado através da educação e do ambiente em que vive.
Um dos aspectos mais controversos do trabalho de John Money foi seu envolvimento no caso David Reimer. Quando nasceu, em 1965, David Reimer era um menino perfeitamente saudável, conhecido então como Bruce. Ele era metade de um par de gêmeos idênticos, filhos de Janet e Ron Reimer, um casal da classe trabalhadora de Winnipeg, Canadá. No entanto, oito meses após o seu nascimento, ele foi vítima de um trágico acidente, que daria início a uma das mais cruéis experiências médicas de nossa recente história. Bruce teve seu pênis inteiro queimado e amputado por conta de uma circuncisão mal sucedida.
Money, dono de uma personalidade articulada e carismática, foi então procurado para resolver o problema, e afirmou ter a resposta: feminino e masculino não estão relacionados a hormônios ou cromossomos, não é inato, é uma construção social. Ele disse que a solução era fazer a transição do menino para uma menina, e nunca lhe contar o que aconteceu. Era responsabilidade inerente dos pais criá-lo como uma menina. A família aceitou o experimento, Bruce se tornou Brenda, e Money acompanhava pessoalmente os gêmeos todos os anos.
Diante da exaltação da revolução sexual oriunda daquela época, o caso de Money ganhou publicidade e fama, principalmente dentro do movimento feminista. Ele começou a escrever sobre o estudo referindo-se a uma das gêmeas como Joan, (Brenda/Bruce), dizendo que ela estava indo muito bem. Entretanto, o relato era completamente falso, pois Brenda/Bruce rejeitava a identidade feminina imposta e sofria sérios problemas psicológicos.
Mesmo com o fracasso completo de seu experimento, Money lançou seu livro, Man & Woman, Boy & Girl em 1972, onde ele transforma o caso Reimer em uma história de sucesso, considerando-o a prova definitiva de que ninguém nasce mulher ou homem, mas torna-se. Arrancou aplausos do mundo acadêmico e sua pesquisa foi difundida como verdade, especialmente nos setores progressistas, feministas e LGBTQIAP+. O intuito era levar as conclusões de Dr. Money sobre o que é Ideologia de Gênero para as escolas e universidades.
Mas, a ambição de Money era sem fim. Voltando suas pesquisas ao desenvolvimento da identidade de gênero de crianças com características sexuais normais, ele queria aplicar sua teoria sobre a maleabilidade do gênero a todas as crianças. O problema, claro, era comprovar essa hipótese. Sem Money, é improvável que a ideologia trans, especialmente o fenômeno das “crianças trans”, existisse da forma que existe hoje. Agora, vemos crianças que se identificam como animais indo para a escola e os professores não podem questionar, porque isso é considerado uma identidade queer. Os “furries” podem até reivindicar espaços especiais para que suas fantasias de animais se acomodem em sala de aula. Adolescentes estão tomando hormônios e bloqueadores de puberdade desde os 13 anos, e ainda não sabemos os efeitos colaterais desses medicamentos a longo prazo. E mesmo assim, estamos afirmando que eles simplesmente nasceram da maneira errada e que é completamente seguro mudar.
Segundo Jordan Peterson, o culto tóxico à Ideologia de Gênero beira uma epidemia psicológica. Um contágio social impulsionado pela ideia errada de que se você tiver mais opções, terá mais liberdade, e que mais opções e mais liberdade produzem bons frutos. O problema é que um excesso de escolhas não produz liberdade, mas sim, ansiedade. Se as pessoas aprendem que tudo está à disposição, elas não ficam livres, mas sim, aterrorizadas. E é por isso que as taxas de depressão e ansiedade entre os jovens dispararam recentemente. Peterson reitera: “…a disforia de gênero é uma expressão variante para representar ansiedade e depressão, subjacente a uma psicopatologia mais ampla.”
Essa nova doutrina velada que diz que a identidade de uma pessoa é única e exclusivamente um produto do cérebro, incute em nossos jovens a ideia de que gênero é algo que precisamos descobrir, e depois revelar a um público que prontamente irá aceitar. A visão “benigna” de que temos que socializar crianças e organizar a sociedade para este novo legado, coloca em xeque a biologia e os valores familiares. As crianças são famosas por sua imaginação ativa, deveriam estar fantasiando sobre contos de fadas e não engajadas em educação sexual tão cedo. A autopercepção de um cérebro jovem ainda não contém as sinapses necessárias para que ele tome decisões determinantes para seu futuro. Por isso, a ideia de que talvez ele deva mudar de sexo, um dia pode estar clara, no dia seguinte pode estar totalmente confusa. Às vezes ele apenas sente ansiedade e não se encaixa em nenhum grupo social, e novas identidades são cogitadas para preencher este vazio.
Nessa jornada por pertencimento, as redes sociais ocupam um espaço substancial, pois servem de motor e estímulo para o sentimento ansioso de pertencer, como uma drogar que intoxica a conexão humana. Para Anna Lembke, professora de Psiquiatria em Stanford e escritora do livro, “Nação Dopamina“, a mídia social imita a conexão humana e estimula a liberação de dopamina. Quando recebemos curtidas e comentários sentimos prazer, e quanto mais prazer sentimos, mais o desejamos. A ação repetitiva torna-se menos excitante e acabamos precisando de mais para nos dar o mesmo prazer que experimentamos antes com menos estímulo. Envolto neste ciclo vicioso por prazer e pertencimento, o jovem descobre um grupo de pessoas que também não se enquadra, dizendo que todos os seus problemas serão resolvidos se ele fizer uma transição. E assim, de repente, a dopamina do cérebro é ativada e a autoestima é alcançada. A mensagem que gruda no cérebro é a de que mudar é sempre bom, ter valores sólidos e verdades absolutas é ser retrógrado e cafona. Paradoxo do fenômeno de crianças não binárias: hoje sou Maria, vou de saia e faço xixi sentada, amanhã sou José, vou de cueca e faço xixi de pé.
No mundo cibernético de hoje, a autoestima é elevada através de publicações que seguem as pautas e trends que estão lacrando na internet. A narrativa mais poderosa irá liderar o caminho, seremos sempre produtos de uma Era. E nossa Era delega que o interessante não é mais descobrir qual a sua profissão ou qual o seu Propósito de Vida. Ser interessante é ser descolado e não binário, ser trans é sinônimo de ser “cool”, e sinalizar a virtude nas redes dá um boost no ego.
“O paradoxo é que o hedonismo, a busca do prazer pelo prazer, leva à anedonia. Que é a incapacidade de desfrutar de qualquer tipo de prazer.”
Anna Lembke