Tempos sombrios passamos juntos nesta pandemia. Choramos, sofremos, entramos em falência, perdemos o emprego ou alguém, ficamos enclausurados e alimentamos o bichinho do medo. Um pesadelo sem fim, que mais parecia uma cena do livro de George Orwell, 1984, mas não era. E quando você acha que acabou, toma uma rasteira do vírus, que, na verdade, se tornou coadjuvante nessa história toda. A realidade é que as vacinas se tornaram a nova protagonista da novela Covid-19. Criou-se uma psicose em massa girando em torno da vacinação obrigatória, ainda vigente em alguns lugares do planeta.
Não há dúvida de que as vacinas da COVID-19 representaram uma intervenção crítica durante a pandemia. Dados consistentes de eficácia do imunizante, evitando morbidade e mortalidade relacionadas ao vírus foram evidenciados extensivamente na mídia. No entanto, a justificativa científica para políticas obrigatórias tem sido cada vez mais desafiada devido ao declínio da imunidade do esterilizante. Variantes emergentes, tais como Delta e Omicron, exigiam da população a inoculação de uma segunda e terceira dose. Desde os primeiros relatos de transmissão pós-vacinação em meados de 2021, ficou claro que indivíduos vacinados e não vacinados, uma vez infectados, transmitem a outras pessoas em níveis semelhantes. Segundo Guilherme Fiuza na matéria publicada pela Revista Oeste, o esforço para fingir o contrário é um escândalo científico da mais alta ordem:
“Um passaporte vacinal como condição para a vida em sociedade baseado numa vacina que não impede a transmissão do vírus é uma escândalo. Mas a sociedade não está escandalizada.”
Guilherme Fiuza – Revista Oeste
Desde o início da pandemia o tema da imunidade natural tem sido negligenciado e vilanizado pela mídia mainstream. Mas, não há como negar a ciência: novas pesquisas evidenciam que a imunidade natural a um tipo de vírus como SARS-CoV-2 é robusta, duradoura e amplamente eficaz, mesmo no caso de mutações. Estudos científicos de imunologia e virologia nos ensinam há mais de um século que a imunidade natural confere proteção contra as proteínas do revestimento externo de um vírus respiratório. Existem fortes evidências da persistência de anticorpos. Pesquisas atuais mostram que a imunidade naturalmente adquirida é igual ou superior às vacinas existentes. Portanto, a vacina não deveria ser a única ferramenta para prevenção da transmissão, estudos apontam que um tratamento médico pode ser indicado a pessoas saudáveis.
Passaportes vacinais foram implementados e justificados por governos e pela comunidade científica para o controle da COVID-19 a partir do ano de 2021. Essas políticas iniciadas em todo o espectro político, inclusive na maioria das democracias liberais, estenderam-se globalmente envolvendo normas sanitárias em instituições de ensino e também em locais de trabalho. Um exemplo disso foi o decreto federal instaurado nos Estados Unidos: “no jab, no job”. Mas a que ponto estes protocolos coercitivos são positivos? A contínua negligência do tema vem afetando os direitos e liberdades de milhões de pessoas e precisa ser investigada com atenção. Parece que a propaganda engendrada pelas Big Pharmas superou a busca pela ciência. A sede por lucro se tornou uma ameaça à saúde pública.
Uma vez decretado o fim do estado de emergência de saúde pública no Brasil, a manutenção de políticas como a exigência de comprovante de inoculação ou teste negativo para ingresso em estabelecimentos não tem mais sentido que não seja provocar situações de segregação e discriminação social. Eticamente, não devemos forçar as vacinas a ninguém ou impor teste negativo do Covid para entrada nos estabelecimentos. Ao respeitar os direitos de integridade corporal dos indivíduos, poderíamos mitigar a ansiedade da população ao invés de impor restrições e causar agitação social. Os passaportes das vacinas consolidaram a discriminação com base no estado de saúde alguém, percebido em lei, minando os direitos de indivíduos saudáveis. Segundo o artigo publicado pelo Brownstone Institute:
“Segregar os vacinados e os não vacinados em uma sociedade, separando-os, não é medicamente ou cientificamente suportável.”
Brownstone Institute
Essas políticas provocaram resistência social e política, principalmente em lugares como Itália, Canadá, Estados Unidos e, também, no Brasil. Este estresse instaurado nas famílias que optaram por não se vacinarem atinge um patamar discriminatório e ilegal, o que prejudica a população e pode trazer consequências trágicas. Essas vastas consequências podem não ter sido intencionais, mas o fato é que se estenderam além da conta em boa parte do mundo, e infringiram os direitos humanos e prejudicaram o direito de ir e vir dos cidadãos. Na matéria publicada pela Gazeta do Povo, fica evidente essa insistência em manter o passaporte vacinal por uma questão política e não sanitária:
“Trabalhadores expulsos de seus locais de trabalho, servidores públicos exonerados, estudantes impedidos de se matricular em universidades e pais sem poder ver os filhos são apenas alguns exemplos da consequência da adoção do passaporte da vacina por parte de governos estaduais, municipais, instituições de ensino ou mesmo órgãos privados.”
Gazeta do Povo
A complexidade das respostas públicas a essas novas vacinas, implementadas no âmbito sociopolítico em contexto da pandemia, exige observação e investigação. Contudo, algumas instituições de ensino insistem em manter o passaporte vacinal em algumas cidades do Brasil e do mundo provocando mal estar entre algumas famílias.
Na intenção de proteger seus alunos, uma escola de elite norte-americana de São Paulo instaurou um crachá de entrada apenas para pais vacinados. Os não vacinados têm de se submeter ao teste RT PCR ou antígeno toda vez que forem entrar na escola. Este fato vem provocando desconforto em algumas famílias cujos filhos não entendem o porquê dos pais serem proibidos de entrar no colégio. Crianças pequenas ainda não podem circular sozinhas, e, se por algum motivo, a criança chega atrasada ou o precisa que a acompanhá-la até sua sala, o mesmo estará impedido por não portar certificado de vacina ou teste negativo. A escola em questão não fornece os testes, portanto, a entrada emergencial de um pai em suas dependências estaria estritamente proibida. Mesmo com a revogação do decreto de 21 de agosto de 2021, a escola continuou a ignorar a ilegalidade de seus atos até agosto de 2022. A mesma foi notificada extrajudicialmente, mas, se recusou a recuar nas restrições criando uma situação distópica em sua comunidade. Tamanha a distopia que até o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu recentemente que todas as medidas restritivas da COVID-19 perderam seu fundamento de validade, incluindo a exigência de passaportes sanitários. Em 14 de junho, o STF acatou que a ESPIN, requisito necessário e imprescindível à eficácia da Lei n. 13.979/2020, a chamada “Lei da pandemia”, havia sido encerrada pela portaria GM/22.4.2022.
A psicóloga clínica Jacqueline Cochrane, que trabalha com crianças e adolescentes há mais de 20 anos considera que um “crachá de vacinas” não seria necessário em instituições educacionais, pois ela acredita que isso poderia criar segregação ou diferenciação entre pais e alunos. Ela reitera: “…somos seres humanos, e não objetos que precisam de identificação ou rótulo”. Cochrane acredita que a sociedade como um todo precisa se unir e lutar contra algo que seja prejudicial, mas, ao mesmo tempo, precisamos ter consciência e respeito em relação ao poder de decisão de cada um. Segundo ela, crianças e adolescentes muitas vezes são expostos por conta de comportamentos e decisões que fizeram ou não, sendo julgados e discriminados, gerando em muitos deles o sentimento de exclusão:
“Entre crianças e adolescentes que são influenciados pelo meio ambiente em que vivem, o crachá de vacina pode servir para excluir o outro e trazer consequências nocivas para o indivíduo ou grupo.”
Jacqueline Cochrane
Os potenciais danos sociais e psicológicos das restrições da pandemia da COVID-19 precisam ser avaliados para garantir que a política de saúde pública sanitária seja eficaz, proporcional, equitativa e legalmente justificada. A eficácia e as consequências das políticas de vacinação coercitiva na resposta à pandemia precisam ser questionadas e reformuladas, de modo que retornem às abordagens de saúde pública não discriminatória, baseadas em confiança, e não apenas em controle.
Vivemos a Era da Informação, chamadas Big Datas, e os passaportes de vacinas digitais são apenas recipientes vazios que não contêm os dados pessoais de saúde que estão por trás deles. O QR code ou certificado vacinal forneceria uma forma de liberdade digital ilusória, pois o próprio fato da vacinação deveria ser suficiente para restaurar as liberdades. Esta imposição de vacina poderá trazer ainda mais segregação a um universo já polarizado. Seus impactos psicológicos e sociais podem ser devastadores diante do bullying coletivo de não vacinados.
Nos Estados Unidos, uma família está processando a Latin School of Chicago por cometer “falha intencional” para estancar o bullying incessante em seu filho. Um estudante começou a espalhar um boato de que o aluno da 10ª série, Nate Bronstein, não havia se vacinado. Nate, na verdade, havia sido vacinado, afirma o processo, mas ele ainda era assediado regularmente devido aos boatos. Os pais do menino, Robert e Rosellene Bronstein, chegaram a entrar em contato com a família do outro aluno sobre o constante assédio. Mas, segundo a matéria publicada no New York Post, o assédio só piorou. De acordo com o processo, um professor chegou a dizer em sala de aula que Nate não iria “a lugar nenhum na vida”. O adolescente também sofreu cyberbullying no Snapchat, onde outro estudante pediu que ele se matasse em meados de dezembro. Um mês depois que Nate foi incitado a se matar por outro aluno nas redes sociais, o menino não aguentou a pressão e, infelizmente, acabou por tirar sua própria vida. Segundo a matéria publicada pela Fox News, a família pede 100 milhões de dólares em ação indenizatória.
Na era digital, o bullying em instituições de ensino tem tomado proporções preocupantes e devastadoras: pessoas são idolatradas e canceladas em questão de segundos. Jacqueline Cochrane trabalha muito com o tema em consultório e acha que o assunto deve ser abordado em casa e nas escolas essencialmente. Quando algo acontece fora das instituições de ensino, muitas vezes a escola prefere se abster e não se envolver. Mas é fato de que se acontece algo com um aluno e os colegas de escola, a instituição tem a função de auxiliar e cuidar, mesmo que o ocorrido tenha sido através das redes sociais. Cochrane acredita que a supervisão dos pais em relação ao que acontece nas mídias digitais é primordial, e que a tecnologia deve ser usada como ferramenta e não como um brinquedo. Essa supervisão não seria considerada uma invasão de privacidade, mas sim, uma prevenção para identificar quando algo não vai bem, dessa forma evitando uma situação de risco:
“Como sociedade precisamos nos unir para que o bullying acabe de uma vez por todas e que a igualdade entre todos realmente aconteça, e que não fique apenas no despejo da fala.”
Jacqueline Cochrane
Mas ao que parece, esta tão almejada “igualdade” tem se tornado cada vez mais distante. Além dos milhões de rótulos disponibilizados pela cultura “Woke” do mundo pós-moderno, agora temos o rótulo dos “não vacinados”. Mesmo decretado o fim do estado de pandemia, restrições sanitárias ainda estão sendo usadas de maneira contraproducente e prejudicial à saúde psicológica de muitas pessoas, o que corrói a confiança vacinal do público, exacerbando ansiedades sociais, frustrações, raiva e incertezas diante dos esterilizantes e das instituições de saúde. Mandatos, passaportes vacinais e restrições sem sentido criam um ambiente onde os efeitos de rejeição aumentam, pois as pessoas com baixa confiança nas vacinas da COVID-19 veem essas informações contraditórias como validação de suas suspeitas e preocupações. Essas “soluções” fabricadas pelas Big Pharmas, Big Mídias e Big Techs meramente como bode expiatório, que mantém a máquina do sistema girando.
O nível de coerção imposto por um mandato precisaria ser proporcional, e é provável que várias abordagens sejam necessárias para aumentar a aceitação da vacina. O conhecimento limitado da doença e dos esterilizantes, provavelmente não são motivos suficientes para obrigar a inoculação para aqueles com menor risco. No entanto, um mandato seletivo para vacinas COVID-19 poderia ser uma escolha e deve ser considerada pelos estabelecimentos que insistem em manter as restrições. Com essa alternativa, a vacinação contra a COVID-19 necessária apenas para idosos que correm maior risco de doenças graves e pessoas com comorbidades, estabelecendo maior justiça na distribuição de riscos. Um protocolo de vacinação para aqueles com alto risco de doença grave poderia ser justificado com base no princípio do dano. Evidências indicam que isso eliminaria a grave ameaça à saúde pública instaurada pela pandemia, pois evitaria o colapso das instituições de saúde. O mesmo princípio deve ser aplicado à obrigatoriedade de vacinas, afinal: “O seu direito termina onde começa o meu”.
Aldous Huxley, em seu livro Admirável Mundo Novo, já previa uma sociedade distópica de seres conformados: “… A maioria dos homens e mulheres crescerá amando sua servidão e nunca sonhará com a revolução.” Na sociedade distópica de Huxley e na nossa atual, as pessoas estão confortáveis em entregarem suas liberdades ao Estado em troca de segurança e estabilidade. Nessa troca, as pessoas aprendem a amar sua servidão, preferindo-a a qualquer sonho de mudança ou de revolução.
O renascimento da coragem seria o antídoto para restabelecermos nossas liberdades. Esta conformidade patológica que infecta o mundo ocidental é fruto de gerações e resultado de uma junção de fatores. A aquiescência generalizada da sociedade é impulsionada por um sistema de valores no qual a validação social ocupa uma posição sublime. O tão almejado sucesso promovido pelas plataformas digitais é alcançado pela sinalização da virtude e pela conformidade com os valores “morais” de nossa época. É também produto de um sistema educacional que desafia o ideal democrático e promove os direitos da maioria sobre os direitos do indivíduo. A cultura do cancelamento dita que não podemos recusar a aderir práticas sociais ou protocolos sem sentido, pois assim poderíamos perder amigos ou ser “cancelados”. Estamos diante da era do conformismo digital. Se não lutarmos contra esta complacência hipnótica, nos restará autonomia apenas no metaverso de Mark Zuckerberg.