O mundo é predominantemente ocidental, salvo algumas exceções. Algumas partes do globo que não são, possivelmente almejam ser. Contudo, os processos em curso nos países tradicionalmente julgados como exemplos de progresso têm mostrado verdadeiro retrocesso. Os choques que ocorrem na América do Norte e Europa Ocidental hoje expõem um lado individualista, camuflado de democrático e social. O enfraquecimento deliberado do Ocidente é evidente.
O modelo ocidental sempre foi o protótipo por muitos anos, e existem muitas razões para isso. A começar pelas filosofias e ensinamentos provenientes de duas cidades muito antigas: Jerusalém e Atenas. Jerusalém representa a revelação religiosa manifestada na tradição judaico e cristã. As crenças de que um Deus benevolente criou um universo ordenado e que esse Deus exige um comportamento moral de sua criação suprema, o ser humano. Atenas representa a razão e a lógica, manifestadas pelos grandes pensadores gregos, Platão e Aristóteles, e muitos outros. Os pilares da filosofia grega são delineados pelas quatro virtudes cardeais de Platão: Justiça, Coragem, Temperança e Sabedoria. Foi o fundamento também da Igreja Católica.
Essas duas formas de pensar – revelação e razão – vivem em constante tensão. As religiões judaico e cristã postulam que existem certas verdades fundamentais que nos foram transmitidas por um ser transcendente. Não inventamos essas verdades; nós as recebemos do Criador. Fomos criados todos iguais, e as regras que Ele estabelece para nós são vitais para construir uma civilização moral e funcional. E para levar uma vida feliz e plena.
SHAPIRO, BEN. Why has the West been so successful?
A ausência da razão grega nos faz cair no fanatismo – a crença de que a adesão fundamentalista a princípios dubitáveis representa o único caminho para o sentido na vida. Sem o raciocínio lógico e sem a fé em Deus, o cidadão inconscientemente dedica sua crença no Estado e na Ciência. Embora a civilização ocidental tenha encontrado uma maneira de equilibrar a crença religiosa e a razão humana, este quadro vem sofrendo transformações radicais nos dias de hoje.
O delirio ocidental tem sido acreditar que a eliminação agressiva de páginas inteiras de sua própria história ‘reverte’ a discriminação contra a maioria, no interesse de uma minora. Na demanda de renunciar a noção tradicional de família, valores espirituais e até mesmo gêneros, aspiram uma renovação social sem desigualdades. Estes defensores do chamado “progresso social” acreditam que estão apresentando à humanidade algum tipo de ‘nova consciência’, quando na verdade estão causando cada vez mais divergências e desfechos negativos. A lacração da ideologia de gênero e a política de “cancelamento” fomentada incessantemente pela esquerda estão destruindo patrimônios humanos: razão e fé.
Theodore Dalrymple
Não há nenhuma novidade nesta receita Molotov, a Rússia já percorreu este caminho. Após a Revolução Russa de 1917, os Bolcheviques injetaram em sua população dogmas comunistas de Marx e Engels, com o intuito de transformar modos e costumes. Não só políticos e econômicos, mas também a noção de moralidade humana e os fundamentos de uma sociedade saudável.
Fomentado pela propaganda panfletária e discursos inflamados, o bolchevismo liderado por Vladimir Ilyich Ulyanov, pseudônimo Lenin, fez a classe operária se sentir destemida, aguerrida. A revolução não foi puramente uma campanha Bolchevique, foi uma obra das massas revolucionárias organizadas. Entre os bolcheviques também havia anarquistas, revolucionários socialistas e muitos outros. Este proletariado russo foi seduzido pela ideologia e as promessas do Marxismo: células contaminadas haviam se espalhado por toda região e passavam seu tempo livre lendo e discutindo política, disseminando o Manifesto Comunista.
Lenin enxergava o sistema de Impérios e o comércio mundial como uma cadeia: potências imperiais com economias desenvolvidas vendendo seus produtos para suas colônias. Colônias abastecendo super potências industrializadas com matérias-primas. Esta classe que emergia na revolução socialista russa representava a centelha de uma alternativa cívica de sistema político, assolando 300 anos de Dinastia Romanov.
GRESHAM COLLEGE – Professor Catherine Merridale, FBA.
“A ilusão socialista reina em todas as ruínas acumuladas no passado, e o futuro a ela pertence. As massas nunca tiveram sede da verdade. Afastam-se de evidências que não são de seu gosto, preferindo divinizar o erro, se o erro as seduz. Quem pode lhes fornecer ilusões é facilmente seu mestre; quem tenta destruir suas ilusões é sempre sua vítima.”
Gustave Le Bon https://www.livrosgratis.com.br/ler-livro-online-146809/the-crowd
LE BON, Gustave. The Crowd: a study of the popular mind. Dover Publications: Garden City, NY. 2002. Pag. 67.
A intenção da revolução é nobre, o intuito é a reconstrução. Porém, o desfecho catastrófico. Alimentado por emergências e guerras, o “progresso social” russo foi o produto de milhares de sonhos, mas foi seguido por milhões de mortes.
A União Soviética, a China comunista e outras tiranias socialistas rejeitaram a fé e assassinaram milhões de pessoas no século XX. Criaram soldados robotizados, seres humanos sem identidade e sem suas virtudes de origem, razão e revelação. O método usado pela esquerda Bolchevique é exatamente o método de doutrinação usado pela esquerda hoje. Nas escolas e universidades, conceitos de família, espiritualidade e religião são substituídos por crenças individualistas, tais como: “meu corpo, minhas regras.” A cultura do “não binário” e a linguagem neutra parecem mais confundir e alienar do que agregar à sociedade. Devemos respeitar e aceitar as escolhas de cada um, mas não doutrinar.
Enquanto as Américas e a Europa se envolvem em guerras ideológicas, a China segue fazendo investimento massivo em tecnologias e construindo as maiores infraestruturas do mundo. Em 1999 as Academias Nacionais de Ciência, Engenharia e Medicina dos Estados Unidos provisionaram que os Estados Unidos continuariam sendo o maior determinante do conhecimento futuro, como permaneceu no século XX. Esquecendo apenas de um detalhe: o elefante branco no meio da sala, a China.
US-China Tech Rivalry | How China will Surpass USA in Key 21st Century Technologies by 2030
A China superou os EUA como o maior fabricante de alta tecnologia do mundo, produzindo 250 milhões de computadores, 25 milhões de automóveis e 1,5 bilhão de smartphones em 2020. Além de se tornar uma potência manufatureira, a China se tornou um sério concorrente nas tecnologias fundamentais do século XXI. Incluindo Inteligência Artificial, 5G, Ciência da Informação Quântica, semicondutores, biotecnologia e energia verde. Em algumas disputas já se tornou a número um. Em outras trajetórias atuais, ultrapassará os EUA na próxima década.
“Enquanto se restringe, a China — o maior gerador de poluição de todos os tipos do mundo — explora seus interesses nacionais, sem dúvida se divertindo com o espetáculo do Ocidente. E o Ocidente se torna cada vez mais dependente dela em todas as suas formas de consumo, graças a uma espécie de raciocínio louco e utópico, do tipo que as universidades há tempos tentam infundir na juventude.”
https://revistaoeste.com/revista/edicao-88/o-ocidente-optou-pela-autodestruicao/
O nível de lavagem cerebral que assola o Ocidente em relação à ideologia de gênero e cultura Woke é paulatinamente absurdo. Qual a lógica em começar a segregar todos em tribos e garantir que todos saibam a que tribo pertencem? Passamos a vida tentando evitar rótulos, e agora somos obrigados a assumir um. O resultado não pode ser outro a menos que você queira segregar e gerar ódio entre as pessoas. Estamos a caminho de nos tornar um barril de pólvora, e agora estamos todos divididos em nossas pequenas bolhas, odiando os que não pertencem ao nosso pequeno grupo. A tão desejada auto realização se concretiza também com as boas relações do ser humano. Assumir rótulos é autodestruição, não pode acabar bem.
No mundo pós pandêmico vivemos no Ocidente um contexto de crescente perda de fé na política e nos políticos. Este desgosto se deve também aos erros na conduta do Estado diante da pandemia do vírus COVID-19: medidas adotadas com a intenção de proteger a população acabaram por prejudicarem a mesma.
A insatisfação é uma condição permanente da humanidade. Porém, no intuito de agradar a todos e serem “politicamente corretas”, algumas pessoas valorizam mais evitar o mal do que promover o bem. Se envolvem em políticas ou ideologias por modismos, com o único intuito de ganhar dinheiro. Segundo o analista político e escritor, Flávio Morgenstern, na reportagem feita pela Revista Oeste, existem mais empresas disseminando ideias esdrúxulas de esquerda que os próprios partidos.
“Uma das coisas mais mentirosas na qual se acredita é o slogan ‘quem lacra não lucra. Queria que fosse verdade. Pelo contrário: a propaganda hoje é sempre política, até para vender chinelo e refrigerante. Infelizmente, grandes conglomerados cada vez mais querem guiar o povo, em vez de oferecer um serviço de qualidade”.
https://revistaoeste.com/revista/edicao-71/os-mais-recentes-ataques-da-linguagem-neutra/
Esta perda de noção de origem se deve à crença no materialismo científico – a crença de que o físico é a única realidade. Você que agora é responsável pelo sentido, não Deus. Acreditar no vazio é um conceito fundamentado na subjetividade do viver, valores tradicionais depreciam-se e princípios e critérios absolutos dissolvem-se. Tudo é sacudido e colocado radicalmente em discussão. Infelizmente, esta convicção de que a vida não tem propósito, nos traz a sensação inconsciente de que somos apenas poeira estelar em um universo sombrio. O mundo se transformou em um metaverso de opções, teleguiado pelo algoritmo.
Em nome de uma sociedade utópica que gera mais distopia, me parece que o Ocidente está sendo “cancelado” para começar de novo. Se o Ocidente está sendo cancelado, a pergunta que não quer calar é: quem será responsável por este “Great Reset?”
Is Klaus Schwab the Most Dangerous Man in the World?
Adoro seus artigos Debora. Sempre com uma visao “macro historica” cheio de detalhes, fontes e informacoes interessantes. Adoro assistir os videos q vc marca. Parabens pelo trabalho jornalistico!
Oi André, muito obrigada pelo feedback. Nosso intuito é informar o maior número de pessoas possível através do pensamento crítico. Juntos vamos superar esta decadência iminente do Ocidente.